sábado, 12 de março de 2011

Antonin Artaud - Declaração Surrealista


Ao assumir a direção do Bureau de Recherches Surréalistes (Escritório de Investigações Surrealistas), Antonin Artaud redigiu o manifesto abaixo, que foi publicado pela primeira vez em forma de cartaz. A declaração foi assinada por vinte e seis nomes. Sem dúvida expressa bem as ideias do surrealismo naquele tempespaço e seu empenho em atividades coletivas, mantendo a afirmação de Lautréamont de que “a poesia deve ser feita por todos”. Contudo, este manifesto é atualíssimo, mais ainda, é atemporal. E há de servir como manifesto da poesia em qualquer época e lugar. Desde que se entenda vida e obra inseparáveis, e se aspire a mais que o mero Gesto do Pensamento, em prol do Todo-Pensamento, da Raiz do Espírito. [Barbosa da Silva]

DECLARAÇÃO DE 27 DE JANEIRO DE 1925

            Tendo em vista uma falsa interpretação de nossa tentativa, estupidamente espalhada entre o público, cumpre-nos declarar o que segue a toda a gaguejante crítica literária, dramática, filosófica, exegética e mesmo teológica contemporânea:

            1º Nós nada temos a ver com a literatura;

            Mas somos bem capazes, se necessário, de nos servir dela como todo o mundo.

2º O surrealismo não é um meio de expressão novo ou mais fácil, nem mesmo uma metafísica da poesia;

e de tudo que se lhe assemelha.

3º Nós estamos realmente decididos a fazer uma Revolução.

4º Nós ajuntamos a palavra surrealismo à palavra revolução unicamente para mostrar o caráter desinteressado, desprendido, e mesmo inteiramente desesperado, desta revolução.

5º Nós não pretendemos mudar nada dos costumes dos homens, mas pensamos realmente demonstrar-lhes a fragilidade de seus pensamentos, e sobre quais alicerces movediços, sobre quais porões, eles fixaram suas casas estremecentes.

6º Nós lançamos à Sociedade esta advertência solene:

Que ela preste atenção a seus desvios, a cada um dos falsos passos de seu espírito, nós não a deixaremos escapar.

7º A cada uma das viradas de seu pensamento, a Sociedade tornará a nos encontrar.

8º Nós somos especialistas da Revolta.

Não há um meio de ação que nós não sejamos capazes, se necessário, de empregar.

9º Nós dizemos mais especialmente ao mundo ocidental:

                                   o surrealismo existe

- Mas o que é então este novo ismo que se prende a nós?

- O surrealismo não é uma forma poética.

É um grito do espírito que se volta para si mesmo e está de fato decidido a triturar seus entraves, e se necessário por meio de martelos materiais!

Do birô de pesquisas surrealistas
15, rue de Grenelle

Louis Aragon, Antonin Artaud, Jaques Baron, Joë Bousque, J. A. Boiffarrd, André Breton, Jean Carrive, René Crevel, Robert Desnos, Paul Éluard, Max Ernest, T. Fraenkel, Francis Gérrard, Michel Leiris, Georges Limbour, Mathias Lübeck, Georges Malkine, André Masson, Max Morise, Pierre Naville, Marcel Noll, Benjamin Péret, Raymond Queneau, Philippe Soupault, Dédé Sunbeam, Roland Tual.
 
Trad. De J. Guinsburg, In: Antonin Artaud – Linguagem e Vida

Áudio de Artaud recitando Para acabar com o julgamento de Deus

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