"Creio que não deveríamos falar de literatura fantástica. E uma das razões — que já declarei alguma vez — é que não sabemos a que gênero corresponde o universo: se ao gênero fantástico ou ao gênero real.
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Creio que se um homem tem vocação literária — escrevi um soneto sobre isso, não? —, então as desventuras pessoais, tudo isso, podem ser um alimento para sua obra e, se me permitem incorrer em exemplos muito elementares, e muito evidentes, não creio que o cárcere de Cervantes ou de Verlaine ou a cegueira de Milton lhes impedissem escrever a poesia que ainda admiramos. Em geral creio que seria mais conveniente para a obra literária que se seguisse a tradição judia, ou seja, a tradição que faz com que o rabino, que viria a ser também o homem de letras, exerça ao mesmo tempo um ofício qualquer, e conviria, segundo me parece, que esse ofício não fosse o jornalismo, porque o jornalismo se assemelha perigosamente à literatura e poderia contaminar a obra do autor. Parece-me melhor, digamos, o caso de Spinoza, polindo lentes e polindo um sistema filosófico, tudo isto ao mesmo tempo."
(Entrevista a Alejandra Pizarnik e Ivonne A. Bordelois, 1964)
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“Neste país, no entanto, há uma tendência a considerar qualquer tipo de literatura — especialmente a poesia — como um jogo de estilo. Conheci muitos poetas que escreveram bem — coisas bem lindas, de uma maneira delicada —, mas ao falar com eles não contam senão obscenidades ou então falam de política, como pode fazer qualquer um, porque sua literatura é uma ocupação secundária. Aprenderam a escrever da mesma maneira que um homem pode aprender a jogar xadrez ou bridge. Na realidade, não são poetas ou escritores. É um truque que aprenderam conscienciosamente e que conhecem a fundo. Mas a maioria deles — salvo quatro ou cinco, digamos — não parece crer que a vida tenha nada de poético ou misterioso. Tomam as coisas por garantidas. Sabem que quando têm que escrever devem se tornar, de imediato, tristes ou irônicos”.
(Entrevista a Ronald Christ, 1966)
Jorge Luis Borges
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