segunda-feira, 30 de maio de 2011

Um Poeta e sua Vida | Por João Antônio Bezerra Neto

      Se vivo fosse, o poeta potiguar Walflan de Queiroz (1930-1995) estaria completando 81 anos de idade, nesse mês chuvoso de maio. Nascido em São Miguel, cidade de paisagem serrana, onde se desponta a fascinante Serra do Camará, na região do Alto Oeste, veio com a família, ainda muito criança, residir em Natal. Estudou no Atheneu, na década de 40, a época situado na rua Junqueira Aires. Lá participou das lutas estudantis bem como dos grêmios literários. 
 Frequentou a tradicional Faculdade de Direito do Recife, onde obteve o título de Bacharel em 1956. Tendo ingressado na marinha mercante, viajou pela América do Sul e ilhas caribenhas. Não se sabe ao certo o número de suas viagens, mas elas foram importantes para a sua vida e até certo ponto para a sua obra poética.
Em Natal, vivenciou a boemia de uma época, construindo ao mesmo tempo a sua obra literária nos jornais e nas revistas, com poemas, crônicas, artigos. Publicou oito livros de poesia, a saber: O Tempo da Solidão (1960), O Livro de Tânia (1963), O Testamento de Jó (1965), A Colina de Deus (1967), Nas Fontes da Salvação (1970), Aos Teus Pés, Senhor (1972), A Fonte de Zeus (1974) e A Noite de Allah (1977).
De maneira didática, a sua obra poética pode ser divida em dois grandes eixos temáticos, que representam dimensões caracterizadoras, formando uma certa unidade ao manter entre si relações estéticas: o primeiro eixo seria a poesia lírico-amorosa em que predomina uma retomada de temas muito próximos da tradição romântica e simbolista; o segundo seria a poesia lírico-religiosa pela expressividade de seus poemas de natureza mística e bíblica que expressam a devoção, a admiração e a reverência a Deus e a seus nomes equivalentes extraídos de várias tradições religiosas (judaico-cristã, islâmica e hindu).  
O poema que transcrevemos para efeito de exemplificação foi dedicado a uma de suas paixões platônicas, a figura emblemática de Tânia, motivo poético que resultou em um dos mais belos livros de poesia amorosa publicado no Rio Grande do Norte:
 
BALADA A TÂNIA

Tânia, Tânia,
Minha é a rosa,
Teu é o poente,
De sangue e de coral.

Tânia, Tânia,
Minha é a concha,
Teu é o pássaro,
Azul do meu sonho.

Tânia, Tânia,
Minha é a solidão,
Teu é o peixe,
De ouro e de cristal.

Tânia, Tânia,
Teu é o mar,
Meu é o rio,
De jade e de turquesa.

Tânia, Tânia,
Meu é o vento,
Teu é o pomar,
Que me traz tristeza e solidão.

(O Livro de Tânia, p. 81-83)

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