segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Jorge de Lima │ Um Soneto

Giorgio de Chirico
Em que distância de hoje te modulo
mundo de relativos compromissos.
Agora estas narinas como orelhas
chupando as cores nuas embaçadas.

Tu sentes estas dores homem nulo,
Diniz abandonado pelas santas.
Tudo foi hoje: o abrir-se e refechar-se
de leitos e de covas incessantes.

Seccionaram-te em noites mil e duas
com cães e galos negros espreitando
e teu chapéu no vento badalando.

Quem vem coser de novo teus pedaços
e unir as noites sempre separadas
senão a morte com dedais e linhas?!


Do Livro de Sonetos. in: Poesia completa. Nova Aguilar, 1997.  p. 494

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