terça-feira, 16 de junho de 2015

Enrique Molina



“A poesia não é um produto de best-sellers, está fora da indústria cultural. Não é uma confissão nem uma incitação a efusões sentimentais. O que poderia esperar dela senão o sentido mesmo de minha existência? Em nenhum momento deixou de ser o foco central do meu destino o qual, agora vejo, foi condicionado por seu exercício. É difícil uma difusão massiva da poesia mas, por mais aleatório que pareça seu percurso, chega sempre a quem tem que chegar, que por certo não são os fanáticos de um clube de futebol. As leituras de Evtuchenko num estádio, por meio de alto-falantes, apenas testemunham uma fé ingênua no prestígio das grandes audiências. A poesia se transmite pelo silêncio.
            Há também os “travestidos” da poesia, se olham ao espelho, sonham que são moças estendidas na relva, conferencistas, antologistas, comunicadores, perfumistas, mas a poesia sabe se defender sozinha. Como a imaginação, é absolutamente impiedosa”. Enrique Molina. In: Páginas de Enrique Molina seleccionadas por el autor, p. 252.

Um comentário:

  1. Ampollas de Escuma

    II

    A espiritualidade gloriosa dos super-humanos que realçará mais: Nero, esfrolando versos ao som dos alaúdes d'oiro, no Palatino, ante as labaredas exiciaes da Cidade, ou Egas Moniz, indo, com a prole, baraço á gorja, pés nús, submetter-se voluntariamente ao holocausto por amor da sua palavra?.. Eu voto pelo cesar. Admitto que o gesto possa dar-se ao luxo de ser honrado, mas não tolero que se furte á obrigação de ser sempre encantador.

    Cesar de Castro

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