I
Tudo
tudo se arrepia quando cai o império do Medo
o delírio constrói ritmos e mágicas visões
poder voltar ao Corpo Infinito
abandonar a memória
destruir labirintos
II
O Absurdo é minha capa nos dias em que ogivas de desespero chovem como um pesadelo
interminável
eu queria que o mundo desse uma chance ao Crepúsculo
que tocasse com a sua a língua de fogo da poesia
que bebesse música em um cálice fantástico e se deliciasse nas alquimias cósmicas
mas não
caminho só ao som de tambores antigos
mascando ciclones
engolindo visões alimentando galáxias
III
A vida
campo de areia
onde outrora deliraram violetas
IV
A Lua vermelha
movendo mares na alma
mesmo que os desertos cresçam
V
Sob o nimbo
um pássaro através do céu
suavemente
demolindo muralhas
VI
A verdadeira vida nascerá
como o Sol
que surge
eclipsando planetas
VII
A vida
fruto de um delírio floral na secreta face lunar
colmeia de sopros
o coma é coletivo
mal se conhece o meteoro
se esquece o Infinito
o flanar foi esquecido
e não se sente a fumaça do incenso póstumo
bailarina errante dissipada no Caos
a bandeja balança para que o vinho caia sobre o Sonho
que brotem delírios
que brotem visões
que brotem amores
do subsolo canibal do meu coração dançando no Absoluto
VIII
Naquele céu azulado
o saco branco
parecia um pássaro
levado pelos ventos
pelos séculos
em metamorfose
sem fim
naquele céu azulado
o saco branco
rebelado
parecia um Serafim
me levando alado
no seu ritmo de sonho
a um antigo Jardim
IX
Os primeiros ventos do inverno
rasgaram a única folha intacta
da lacrimosa partitura outonal
espalhando todas as lembranças
todas as melodias amarelecidas
pelo céu de tons minguantes
febril igual a um verão absoluto
abatido em meu catre
eu espero a tempestade projetada no horizonte profundo
profundo como as raízes vermelhas
do teu olhar perdido
na última primavera
X
Janela aberta no alto
duma torre em ruínas
ruas-ringues repolhos podres
diarreias vítreas
convulsões
compulsões
dados rolam
& cabeças cubiculam
entre as linhas
vermelho-pólvora
dos obituários obesos
impressos pós crepúsculo
na nuca dos fecais vulcões
sem face
gritos lacerados
abrem crateras no meu crânio
miragens de beleza
escapam
sem graves lesões
de
olhos bem cerrados
(Márcio Magnus, 1985, Brasil, marciomgs16@yahoo.com.br)
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