Max Ernst. Design in Nature. 1947. |
Com passo tranquilo
os transeuntes avançam até o umbral das pupilas
amantes negros
afugentam os cães enfurecidos
é a hecatombe da luxúria
que se agita por trás dos rostos desfigurados
com passo tranquilo
amantes policromos se cruzam na alameda da angústia
em seu poleiro
o espectador perfeito estuda impassível os sinais
de vertigem
o fogo latente das virgens
o semblante imaculado das portas
uma voz se entreabre para mostrar seu obscuro desejo
o amante negro sobe as escadas arrebatado
pela dança frenética
as janelas se fecham
silêncio da noite da carne
os desconhecidos apertam as mãos
uma conversa interminável descansa
no extremo limite da sombra da fria pupila
os ginastas rolam
pelas escadas destroçadas
como chegar ao que de ti não se pode ver?
como fazer brotar o desejo ardente de tua carne
entreaberta?
a seus pés
os cachorros enfurecidos latem
olhos implacáveis
neles se perde a linguagem dos desejos
o enforcado se balança ao eco dos latidos
boa noite
tudo termina
os cães aterrorizados fogem do horizonte ardente e líquido
empalidece o vigor
dos braços ávidos
uma noite tranquila para o desconhecido que se afasta
uma noite de esquecimento negro.
Tradução: Barbosa da Silva
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