O grande mérito de Walflan de Queiroz, fonte de seus poemas, foi sua vivência integral da poesia, sua dedicação sem concessões ao seu talento e compreensão. Irmanava-se aos poetas que lia, andava com eles pela cidade. Dono de um temperamento boêmio e passional, a um só tempo contemplativo e tempestuoso, não distinguia entre o que havia lido e o que vivia. Sua vida estava permeada por leituras que conduziam seu olhar ao mundo e moldavam sua forma de experimentá-lo. Muitas vezes, tornavam-se atitudes concretas, como a decisão de partir para o mar num navio mercante. Experiência que por sua vez ressurgiria na sua poesia e a influenciaria. Em toda sua obra, o mar é um dos signos deste trânsito permanente entre o simbólico e a própria vida, a experiência sensorial e suas representações. São inúmeros os poemas onde ele é referido ou utilizado em imagens, metáforas e comparações. Noutros, sua vaga presença é apenas intuída e sugerida, como neste Poema em Outubro [Márcio Simões]
à Deusa da Poesia
Um distante silêncio, vindo das devastadas mansões do tempo,
Vem ao meu encontro, e, como suave neve, como delicada chuva em Outubro
Molha a solidão de minha noite fria.
Graças a ele, penso tristemente nos mortos e amantes que se foram
Como irradiante réstia de sol, como água que corre dos rios
E me traz o aroma das margaridas adolescentes, o brilho de peixes de cristal.
Estes mortos nos quais eu penso, andaram por ilhas, conheceram baías verdes,
E como vulcões, ergueram suas chamas ardentes contra o céu.
Um distante silêncio desce das devastadas mansões do tempo, molhando minha solidão.
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